“Naquela época, em Paris, a maioria das pessoas buscava por luxo, conforto, riqueza, poder. E eu era um dos que vendia tudo isso a elas. Eu podia oferecer tudo isso e mais um pouco com minha lábia, meu conhecimento, meu jeito de conduzir os negócios e também com uma característica especial que eu tinha, que era uma grande capacidade de sedução.

Eu seduzi muitas mulheres e já espalhei pelo mundo um pouco dessa história. Arranquei de muitas o néctar do desejo, como um vampiro que busca por mais e mais taças de sangue.”

Na confluência de vozes, períodos e dimensões, este é um livro que amplia nossa visão a respeito de grandes temas como a vida, a morte e o amor. Sob a potência mística do número 7, essa é uma história que se desdobra em outras, sem nunca deixar de ser a mesma. Nela, a escritora-médium empresta sua escrita a uma entidade-autora: S. Capa Preta das 7 Encruzilhadas. Trata-se de um Exu – uma das mais controversas figuras do universo religioso e cultural brasileiro. Já aí se anuncia o rompimento com as visões cristalizadas e simplistas acerca do “Senhor dos Caminhos”.

O resultado dessa sobreposição de vozes é uma narrativa que emana de um lugar fora do tempo como o conhecemos, sem deixar de pertencer ao presente: assume o tom dos saberes ancestrais ao passo que reverbera as tônicas da literatura e do mundo contemporâneos.

Nesta psicografia, ensinamentos advindos das vivências na Umbanda são a chave de leitura que permitirá atravessar tabus como a sexualidade, a violência e a morte sem perder de vista a grande linha de força da narrativa: a potência redentora do Amor, em suas múltiplas formas. Não à toa, é na voz de um Exu, transcendente em sua profunda humanidade, que a mensagem se desvela.

Gissele Chapanski
Dra. pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp