Descrição
Alvaro é o poeta da natureza e do cotidiano. Em seus livros, desfilam cabras, pernilongos, carneiros, formigas, garças, pardais, beija-flores, borboletas e gatos, muitos gatos, além de outros seres que, normalmente figurantes em outras narrativas, sua caneta os torna protagonistas em seus haicais. Mas, também, temos a presença de crianças que brincam despreocupadas em jardins ou ruas, a chuva tamborilando nas calhas, o passo trôpego de um alcoólico, o empinar uma pipa… Enfim, nos haicais de Posselt, a natureza – entendendo-se o homem inserido nela – espelha-se com emocionante simplicidade.
Entretanto, a literatura japonesa ampliou a capacidade de expressão do haicai desenvolvendo o haibun, que é uma forma literária que combina um pequeno trecho em prosa e um haicai. Acredita-se que foi Matsuo Bashô (1644 – 1694) quem usou a palavra haibun pela primeira vez, em carta dirigida ao seu discípulo Kyorai, no ano de 1690, e se valeu deles, em seus relatos ou diários de viagem. Apesar da simplicidade dessa proposta, há uma riqueza de aspectos que convém levar em consideração ao se compor um haibun.
A prosa utilizada deve ser uma prosa poética, ou seja, que descreva uma dada situação ou cena, evento natural, ser animal ou planta, ligada a uma experiência vivida pelo autor, devendo ser construída com uma linguagem em que o autor deixe perceber as emoções ligadas à ocorrência por ele vivida. Ou seja, a prosa poética não é bula de remédio ou tratado de ciências naturais ou físicas, ela carrega o modo do haicaísta ver e se relacionar com o mundo.
Já o haicai deverá se ligar à prosa poética de modo sutil, por sugestão, não literalmente. Haicai não explica a prosa, nem ela contextualiza o poema. O que os une é algo como o balanço resultante do sopro leve da brisa sobre uma touceira de capim.
Carlos Martins
Haicaísta
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