Diretor da Editora Insight Visita Eiko Kadono, autora do livro que deu origem ao filme “O Serviço de Entregas de Kiki” (Studio Ghibli)
Visita à Eiko Kadono, simpática e famosa escritora japonesa, autora do livro que deu origem ao filme “O Serviço de Entregas de Kiki” (Studio Ghibli), ganhadora do prêmio Hans Christian Andersen de 2018, considerado, no mundo, o mais importante da área de literatura infantojuvenil.
No início de Julho de 2019 tive o privilégio de participar de um reencontro entre a escritora Eiko Kadono, agraciada com o prêmio Hans Christian Andersen em 2018, considerado um dos mais importante da literatura infantojuvenil e Maria Cristina Fukushima, minha mãe, doutora em literatura, com livro publicado pela Editora Insight.
A oportunidade surgiu dada a longa amizade entre elas embora não terem se encontrado há muito tempo. Nessa ocasião pude realizar uma pequena entrevista, com a contribuição de colegas do Coletivo Era Uma Vez, mais especificamente Jaqueline Conte e Josiane Bibas, que tem como foco a literatura infanto juvenil e o incentivo à leitura, e do qual faço parte.
A amizade entre as duas está relacionada à carreira de escritora de Eiko Kadono. O seu primeiro livro “O Brasil e meu amigo Luizinho” (ルイジンニョ少年 ブラジルをたずねて) , de 1970, é baseado na sua própria experiência de quando jovem. Nessa época veio como imigrante ao Brasil, e viveu por dois anos aqui. Foi na volta ao Japão, e por incentivo de um ex-professor da Universidade Waseda, onde ela se formou, que ela escreveu este livro. Na ocasião encontrou-se com Maria Cristina, que vivia nesse país, a fim de que conferisse algumas informações sobre o Brasil. Foi aí que se conheceram.
Durante a entrevista, um dos assuntos foi tentar lembrar quem foram as pessoas que as apresentaram naquela época, sendo o mais provável terem sido pessoas da própria Universidade Waseda, onde minha mãe, recém chegada ao Japão, lecionava português. Desde lá as duas cultivaram a amizade e eu me lembro, na minha adolescência, de ter participado de alguns encontros como, por exemplo, de termos ido ao show de Clara Nunes, em Tokyo, na década de 1980. Comentamos também das conversas com a sua filha Rio que ilustrava, com os seus desenhos, as histórias criadas pela mãe. O desenho da bruxa, do gato e do rádio, foi realizado pela filha, com 12 anos na época, e serviu de inspiração para a famosa personagem Kiki.
Rio recebeu este nome em homenagem à cidade brasileira em que Eiko morou na juventude. Hoje em dia, a filha atua como ‘coordenadora do estilo’ preparando os looks para as apresentações públicas da mãe (entre outras coisas). Eiko Kadono também é conhecida pelo seu jeito peculiar de se vestir.
O encontro
Para o encontro tão esperado fomos até Kamakura, cidade histórica onde Eiko Kadono mora e que fica aproximadamente a uma hora de trem de Tokyo. Chegamos cedo para antes ir visitar o Daibutsu, o famoso Buda Sentado, feito de bronze e que fica na mesma cidade. Havíamos marcado nosso encontro na própria estação de Kamakura. Vestida de roupa azul com uma bolsa com estampa de melancia, Eiko estava muito à vontade e super receptiva. Ela nos levou a um restaurante de comida japonesa tradicional onde tivemos um prazeroso bate-papo. Após o almoço ela nos convidou para conhecermos a sua casa, o que nos rendeu muito mais conversa, onde nos contou um fato engraçado.Um site qualquer, comentou que ela tinha alguma ascendência russa. Devido a esta informação, uma repórter daquele país foi entrevistá-la para conversar sobre a sua origem. Porém isso não passou de um fake news, comentando portanto que a internet ‘é complicada’.
Quem é Eiko Kadono
A autora japonesa de 84 anos, nascida em Tokyo em 1935, tem no seu currículo mais de 200 títulos publicados, diversas traduções e prêmios pelo mundo. Sem dúvida o seu livro mais conhecido é “O serviço de entregas de Kiki” (魔女の宅急便), que deu origem ao filme de animação do estúdio Ghibli, com o nome em português “Kiki, A Aprendiz de Feiticeira”. O livro, lançado em 1985, conta a história da jornada de uma feiticeira e virou filme em 1989, após venda de cerca de 100 mil exemplares. Essa história teve continuidade com mais 5 volumes, que tomou 24 anos para ser completada com seu último volume sendo lançado em 2009. Apesar do gatinho Jiji ser um personagem super carismático, contrariando as expectativas, a própria autora não tem nenhum gato de verdade.
Um dos livros publicados recentemente sobre Kadono conta um pouco do dia-a-dia da autora com o seu ambiente de trabalho, os locais que frequenta, o que come, diversas cenas do cotidiano, a sua coleção de bonecas de bruxas, além de seus desenhos que contribuem muito para o seu processo de criação. A autora comenta, em tom de brincadeira, que este livro biográfico lhe causa até um ‘ciumezinho’ porque vende mais do que suas outras obras. Ao mesmo tempo nos mostrou, com entusiasmo, um novo livro no prelo que mostra mais detalhes do seu cotidiano. Nome do livro sobre a autora: O dia a dia de Eiko Kadono (角野栄子の毎日いろいろ)
Eiko Kadono tem alcançado muito sucesso, tanto nas suas obras, como no seu estilo de vida, como observamos em uma reportagem muito interessante de uma revista de grande circulação que conta sobre este seu estilo particular. Além disso estava bem animada com a exposição no Museu de Literatura de Kamakura, chamada “O mundo de Eiko Kadono”(角野栄子の世界), que ficou em cartaz de 13 de julho até 23 de setembro de 2019.
Pode- se perceber que existe uma valorização e reconhecimento do trabalho da autora no Japão, mas algumas coisas do mundo da Kadono são iguais ao nosso: perguntado sobre como incentivar a leitura na infância, ela concorda que o melhor jeito ainda é um adulto ler para a criança, introduzindo-a no mundo da leitura.
Relação com o Brasil
No final dos anos 1950, ou seja logo depois da segunda guerra mundial, Eiko Kadono vem para o Brasil e mora por 2 anos no Rio de Janeiro assim, ela tem uma relação muito carinhosa com o nosso país. Teria o Brasil alguma relação com a sua escrita? Ela responde em português: “Muito!!!”
Comenta que a sonoridade da língua tem muito a ver com a sua infância, quando seu pai lia para ela e onde a fala dele tinha algo de muito sonoro. Disse que as palavras rítmicas do Brasil somadas aos ritmos da “Shitamati” ajudam na sua criatividade.
Além do livro já citado de estreia “O Brasil e meu amigo Luizinho” (ルイジンニョ少年 ブラジルをたずねて), ela lançou em 1981 o livro “Brasil, viagem com a filha” (ブラジル、娘とふたり旅 ブラジル紀行 ), que é um diário de viagem leve e divertido, bem como um outro livro infantojuvenil chamado “Uma garota chamada Nada” (ナーダ という名の少女) de 2016 , que trata de uma menina em busca de autoconhecimento e se passa no Brasil. Ela contou que, para pesquisar, se utilizou do Google Street View.
Até hoje Eiko Kadono gosta de tomar um ‘cafezinho’, hábito que adquiriu no Brasil. Durante a conversa, nos disse ter experimentado todos os cafés de Kamakura e nos levou à um café bem quentinho que, segundo ela, era o mais parecido com a experiência do café do país distante. Na sua residência, ela faz questão de tomar café com grãos brasileiros!
Em retrospecto, lembrando dos encontros que participava com Kadono e a filha Rio na minha adolescência, tenho a sensação que as conversas sobre desenhos e artes, devem ter me influenciado de alguma maneira na minha escolha pelo design gráfico e no direcionamento do meu trabalho com a literatura infantojuvenil, unindo o mundo visual com a literatura.
Alguns links para conhecer melhor a Eiko Kadono:
http://kiki-jiji.com/ (Site em japones e ingles)
婦人画報 Fujingahō de maio de 2019 (revista com entrevista com autora)
https://www.thekono.com/articles/db6c95ac-4dd7-4362-aaea-ef426e8d39f4 (em Japonês)
母はお洒落な魔女 : Mãe é uma feiticeira da moda
https://pt.wikipedia.org/wiki/Eiko_Kadono
https://www.instagram.com/eiko.kadono
鎌倉 文学館 / 角野栄子の世界
http://www.kamakurabungaku.com/exhibition/index.html
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